quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Conceito de pobreza e o sentido das palavras

Pensando ainda sobre a guerra pela "Justiça Social" que o Obama acabar de declarar, eu percebi como conceitos tão amplos e subjetivos como da pobreza são aceitos como definições inquestionáveis. Como se uma maçã chamada pobreza houvesse caído na cabeça de um gênio e ele tivesse em algum lugar da história descrito ela tão precisamente que nós pudéssemos a reconhecer e a combater simplesmente com um olhar e "vontade política".

Quando um dia desses eu me deparei com um artigo no Spiegel sobre a pobreza na infância do Wirtschafts- und Sozialwissenschaftlichen Institut (WSI), que estuda o que é pobreza e desigualdade a mais de 60 anos.

Fazem 60 anos que estudam e para saber o que é pobreza. Ainda que eu tenha discutido aqui a essência da pobreza, não me passou pela cabeça relacionar a essência com o uso da palavra. Talvez por isso eu esteja tão incomodado.

Só para dar um exemplo da manipulação do uso das palavras, quer coisa mais mágica que o significado da expressão "classe média"? Por um lado a Dilma e o governo petista se orgulham de ter retirado milhões da pobreza, seja lá o que isso signifique, e elevado à classe média. Por outro lado não são poucos os ataques à classe média, acusada de todo mal da sociedade brasileira. O que podemos concluir? O PT destruiu o Brasil por expandir a classe média? E o maior exemplo disso seria o Maranhão? Tô entendendo agora!

Obviamente eles não se preocupam com o sentido das palavras, só com a emoção que elas geram. E as emoções dependem única e exclusivamente do contexto. A consciência não apreende uma unidade. Como diria Dostoievski: se não existe uma unidade então tudo é permitido. Se tudo é permitido então é permitido manipular pessoas, e nada melhor do que fazer isso do que fazer elas acreditarem que tem consciência e sabedoria enquanto não tem.

Vejam só, a própria idéia que "a verdade não tem dono" é tristemente manipulada. "Eu tenho a minha e você tem a sua". Se eu tenho uma e você tem outra, então nós podemos comprar, vender ou trocar de idéias. Se a verdade não tem dono, significa que qualquer filho da puta pode descobrir uma verdade. Como eu me encaixo no perfil, vou tentando.

Que a pobreza seja definida como falta de dinheiro ou bens materiais em países desenvolvidos me parece razoável. Onde a liberdade está garantida, o acesso a bens materiais é a única restrição. Quando a liberdade está restrita, a pobreza deveria ser medida a partir das restrições, que significam mais do que o acesso momentâneo ao dinheiro.

3 comentários:

  1. Segundo li uma vez - e até agora não tive prova do contrário - a expressão "Justiça Social" não passa de mais uma redundância "politicamente correta", visto que o próprio conceito de Justiça já teria em si o componente Social inerente. Aqui na minha cidade por exemplo, o prefeito (cujo partido nem é necessário mencionar) com ajuda dos vereadores (categoria que humildemente considero cada vez mais inútil) acaba de fazer "Justiça Social" com o dinheiro dos outros - justificativa dada oficialmente na imprensa. E com o pretexto de supostamente se combater a "especulação imobiliária". Na tradição do partideco socialista, todas as famílias de classe mérdia que foram sobretaxadas são imediatamente rotuladas de "inimigos do Povo".

    E daí pensei nas suas considerações quanto à volatilidade que o conceito de "classe média" tem na cultura política, o que me fez lembrar de um insight (...) sobre esse assunto que tive outro dia. A "classe média" é coisa mais indesejável que pode existir do ponto de vista de um político - aqui tomado no seu sentido genérico, de todos os partidos. Políticos, para uma carreira bem sucedida, precisam dos muito ricos, para bancá-los sem aborrecê-los com cobranças mesquinhas de valores morais pequeno-burgueses; e dos pobres para depender de seus favores. A classe média não é nem uma coisa nem outra. O que, por sua vez fez-me lembrar de outra coisa que havia lido há muito tempo, a respeito de que um dos fatores que diferenciam a prosperidade da agricultura dos países desenvolvidos em relação aos de terceiro-mundo é a existência de uma "classe média rural" nos primeiros e sua ausência nos últimos. Ligando esse raciocínio com o outro, percebi porque nenhum partido político brasileiro age para tornar a agricultura brasilieira ainda mais competitiva e proeminente na economia do que, aos trancos e barrancos, acabou sendo. Não seria bom a político nenhum uma "classe média" dominando a produção de alimentos, e ainda por cima com os valores conservadores (também genericamente falando) que ao menos boa parte dessa classe aqui no Brasil costuma defender.

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    1. 1000% de aumento é uma paulada, heín!? Você está certo sobre a classe média como classe dos cidadões livres, e que ela não interessa a idéia de totalitarismo político que vive a cabeça dos nossos líderes (que adoram todos ditadores e proto-ditadores, como exemplo da determinação dos povos). A intenção é sufocar todas as liberdades, sem que ninguém perceba até que esteja completamente enforcado. Isso faz parte do enforcamento econômico através dos impostos , e o fortalecimento da sensação de dependência do governo. Vejam só, estão vendendo agora se não fosse o governo nem os pobres entrariam no Shopping Campo Limpo...

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    2. Em pleno mês de férias, o caso ainda está dando muito "pano para manga"... Houve casos de 2000 até 4800% (!!?).

      No fundo parece que aqui a moral da história é desestimular drasticamente a compra de casas/terrenos e privilegiar os apartamentos feitos pelas empreiteira$ amiga$ que bancam o PT direta ou indiretamente, através do "Minha Casa, Minha Dívida".

      A ação da FIESP contra a Prefeitura de São Paulo já abriu jurisprudência, só faltam promotores e juízes com "saco roxo" para levar as inúmeras ações adiante, mas aí é que são elas...

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