A consciência existe para duvidar do que nossos olhos vêem. Ou das imagens que se formam em nossa cachola. A sã consciência é o que nos impede de confundir um sonho ou uma alucinação com a realidade. A loucura como doença que consome o ser humano é a falta de capacidade de diferenciar uma alucinação da realidade.
E é muito simples o trabalho da consciência. Ela compreende como as coisas de movem, não só movimento físico local, mas movimento como o considerado por Aristoteles, toda mudança é considerada como movimento. Mudança de forma, de cor, de sabor, de temperatura. Quando sonhamos que estamos na praia, logo a consciência duvida. Para estar na praia deveríamos ter pego um ônibus ou carro, e não há na memória este registro. Logo não pode ser verdade.
Nas nossas memórias de criança podemos caçar lá nas primeiras lembranças a primeira vez que duvidamos de nossos olhos. Esta minha lembrança foi bem documentada, já que foi durante um fato histórico. A última corrida realizada no antigo circuito de Interlagos. Ao ver os carros passando pela curva 3, curva extremamente inclinada, onde os carros parecem estar colados numa parede. Cheguei a conclusão que aquilo não poderia ser verdade, os carros deveriam cair. Mas era, eu não havia apreendido aquilo apenas.
Viajar para China é perceber como a nossa consciência é teimosa. Algo que fazemos automaticamente sem perceber é analisar a viabilidade econômica de um lugar. Sim, eu não sou economista. Mas certamente qualquer um se perguntaria isso, se jantasse solitário toda noite no buffet de um hotel 5 estrelas. Qual é o sentido de haver um buffet completo se não mais do que 3 ou 4 pessoas jantam lá toda a noite?
Ou então entrar em não um, nem dois, mas 3 shoppings de luxo. E encontrar apenas vendedores nos seus smartphones, conversando entre si ou olhando para o teto. São shoppings inteiros, e tudo na China é feito para ser o maior possível, da muralha aos prédios. No Brasil, por mais caro que seja a loja, ainda haverá gente se acotovelando.
Ainda mais, em pleno feriado "Mid Autumn Festival" trafegar por uma rodovia deserta. Ainda que seja o sonho de 11 entre 10 turistas, é algo que não faz sentido.
Ou então descobrir que o nível de ocupação dos prédios da cidade é de 50%, subir num prédio de escritórios e ver quase tudo abandonado, cheio de lixo da época da construção. Nada mais que um ou outro escritório aberto.
Alguém tem que pagar por isso, é o que procuramos entender. Mas quem paga por isso?
Em uma semana, sem muito esforço, algumas respostas:
ZDF Auslandsjournal: Chinas Plastik-Provinz
O negócio com o lixo - Como províncias chinesas se afundam em plástico.
Apesar das garrafas retornáveis e reciclagem, os alemães ainda produzem montanhas de lixo plástico. Apenas poucos sabem, que por trás disso se esconde um grande negócio. China importa anualmente milhões de toneladas de lixo plástico, que serão processadas em empresas de reciclagem. De pacotes e garrafas velhas serão feitos novos produtos descartáveis.
Só no nordeste da China, na província de Shandong, existem 5.000 empresas que reciclam plástico. Cuidados com o mein ambiente ou saúde não se vê aqui. As gigantes montanhas de lixo serão lavadas com substancias venenosas, pelo qual o lençol freático será contaminado. EPIs para os trabalhadores também não há. A correspondente da ZDF Nicola Albrecht sobre as condições catastróficas na "Província do Plástico" chinesa. (Nota: traduzido pelo autor)
A pequena reportagem do Auslandsjournal mostra como uma província se transformou nos últimos 10 anos, desde que o governo transformou a região em polo para reciclagem de plástico. O dono da empresa comenta sobre seus funcionários: "Não são exatamente inteligentes, aprendem devagar, não gostam de trabalhar duro. Mas você queria o quê? Eles vem de longe da civilização." Não está claro para mim, mas aparentemente eles ganham 16 Euros por mês. Eles quem? Duas famílias... Uma delas acabara de receber o quarto filho.
Mídia sem Máscara: Produtos chineses trazem cartas com apelos desesperados.
Mostra uma americana que, ao comprar produtos para o Halloween encontrou uma carta pedindo ajuda. O produto foi feito numa prisão.
Outras coisas que machucam nossa consciência. Ser atendido no café da manhã as 6:30 e no jantar as 9 horas pelas mesmas "fuiés". Provavelmente 16 ou 18 horas de turno de trabalho. Não, isso não é humano.
É com tristeza que encontro essas notícias, mas a procuro por uma questão de sanidade mental. Pelo lado mais limpinho da China é notável que algo está errado. A China é um país maravilhoso, e o povo extremamente amigável e honesto. Sem dúvidas eles merecem o melhor.