domingo, 12 de janeiro de 2014

A alienação

Acabei de assistir uma entrevista com o Roger Scruton recomendada pelo Rodrigo Constantino.

O que me chamou a atenção é ele utilizar a palavra em alemão para falar de alienação: Entfremdung. Não é a primeira nem a última vez que o alemão nos fornecerá palavras que tornam fáceis conceitos difíceis. Wahrnehmung em português se chama cognição.  Que é a capacidade de tomar como realidade o que nossos sentidos capitam. Dá até para usar como um verbo: Ich nehme das wahr. Eu tomo isso como real. Selbsverständlich! Eu lia a palavra cognição e me sentia distante de um entendimento.

Entfremdung é auto-evidente. Se alienar significa então se tornar estranho. No Brasil, onde ser estranho é quase obrigatório, é bem difícil de perceber isso.

Como por exemplo, como um país de maioria conservadora não existe um único partido conservador? A direita se chama aqui social-democracia, que em países civilizados é conhecida como a esquerda aceitável.

Lá pelos meus 20 poucos, não acreditava em Deus, não acreditava no socialismo/comunismo. Mas acreditava que o mundo deveria ser socialmente construído. Postas algumas leis e alguma liberdade, a sociedade se desenvolveria a partir dessas coisas. A esquerda havia roubado a idéia do construtivismo social e a corrompido. Era meu dever retomar o construtivismo social para o lado dos bons e executar essa idéia de modo sério, longe do pupulismo da esquerda.

Foi então na faculdade de engenharia  que tive acesso a aulas de filosofia básica, moral e religião. Foi lá então que conheci C.S. Lewis, G.K. Chesterton, Gustavo Corção e Olavo de Carvalho. Foi então que tive contato direto e sem filtros com pensamento conservador. Demorou mais de 20 anos para isso acontecer, para me ver fora de uma trama alienada e alienante.

Pobre é quem discute a existência de Deus como discute com uma criança de 7 anos. A discussão pública sobre a existência de Deus termina com tudo que aprendemos até essa idade. Se ignora o fato que a própria possibilidade de existir liberdade no mundo se passa pela existência de Deus. Deus na tradição monoteísta é a própria promessa de se livrar da escravidão.

E o debate sobre a moral? Consegue passar ainda mais longe. A moral está para natureza humana como a gravidade está para a natureza física. Não há como escapar da moral, moral é simplesmente o fato de atacarmos aquilo que achamos errado e defendermos o que achamos certo. Aproveitando mais uma fala do Roger Scruton, toda idéia séria é realmente perigosa. A moral no debate público significa um pacote de valores impostos à sociedade. A exposição da moral desta maneira atiça nossa moral, a tal estrutura da natureza humana, contra a própria palavra moral. É como acusar a força da gravidade de derrubar uma casa, e por isso banir o estudo das leis da física em toda sociedade. Estudamos a força da gravidade para fazer prédios que não caiam, pra nos tornarmos livres dos piores efeitos da gravidade. Se não estudarmos o que é moral nos tornamos reféns da moral, por exemplo: Fumar é ruim, então odiamos os fumantes. Realizar irrestritamente todos os desejos sexuais é bom, então amamos os homossexuais, que formalizam essa capacidade. Refrear o desejo sexual? Isso entra no domínio da moral, e por isso odiamos.  E provavelmente são homofóbicos.

Enquanto a moral não se torne consciente, através do estudo e educação, ela será a principal ferramenta de alienação. Pois a moral é forte e certa como a gravidade. A falta de consciência da moral faz a população acatar com amor e ódio as vontades do partido ou de instituições financiadas por milionários.

As forças mais evidentes da natureza

Meus amigos filósofos vão torcer o nariz por eu comparar a Lei da Gravitação de Newton com a Lei Moral. Eles tem a completa razão, pois a vontade de Newton era transformar as leis da física como tratado de filosofia. Sabemos que as leis da física Newtoniana são apenas uma aproximação e não correspondem completamente a realidade, contém declaradamente um erro. Filosoficamente a física Newtoniana é inaceitável. Mas eu sou um engenheiro, para mim dois mais dois são aproximadamente quatro, mas por segurança eu adoto cinco, ou se a idéia for economizar eu arrisco até um três. Um engenheiro vive do erro de cálculo, na fenda entre a "ideologia" física e a realidade. Exatamente como um verdadeiro filósofo, que vive na fenda entre o mundo das idéias e a realidade. Tentamos conectar a realidade ao outro lado, no caso dos engenheiros a física e no caso dos filósofos a metafísica. Quando encontramos Newton o ponto de contato é diferente. Assim, se me permitem, falo de Newton como engenheiro e aceito que como filósofo ele é um enganador.

Mas o fato é que começar pela moral ou pela força da gravidade significa não começar nem pelo começo nem pelo fim. É começar pelo meio, o centro de nossa atenção. A força da gravidade é evidente, pois as coisas caem "sozinhas" em direção ao chão. Para qualquer outro movimento precisamos de uma força, um esforço. Tão evidente quanto nós gostamos de estar certos, de coisas bonitas e justas. Assim como detestamos o erro (muito embora o aceitamos na física Newtoniana), o feio e a injustiça. Não quero discutir aqui sobre o que é certo, belo e justo, mas sim que TODOS tem a necessidade de encontrar e defender essas três coisas. O que há por trás da força da gravidade é uma coisa que a ciência nunca chegou a uma conclusão. Mas o que há por trás da força Moral?

Antes de responder, ninguém toma a força da gravidade como causa. Sabemos que ela é efeito de alguma coisa, não sabemos ao certo o que está por trás da atração de massas. A força da lei Moral também não pode ser causa, mas efeito de alguma coisa. Essa coisa é que colocamos o nome de Deus. Por milhares de anos, diversas civilizações espalhadas chegaram a conclusão que de uma forma ou de outra Deus existe.  Percebem como é ridícula a afirmação que o homem criou Deus? Não O criou, mas O encontrou no fundo da própria alma. Também não cabe aqui discutir qual Deus é correto, mas que de alguma forma Ele existe e nós dependemos Dele.

O ateísmo, as ideologias que preconizam a criação da realidade a partir das idéias, não passam de Entfremdungen. Alienações que tornam o homem estranho ao próprio homem.

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